Patologização e invisibilidade: reconhecimento das demandas e acolhimento da população LGBT na Atenção Básica
PDF

Palavras-chave

Atenção Primária à Saúde
Comportamento Sexual
Estigma Social
Política de Saúde
Capacitação Profissional

Como Citar

Guimarães, R. de C. P., Lorenzo, C. F. G., & Mendonça, A. V. M. (2021). Patologização e invisibilidade: reconhecimento das demandas e acolhimento da população LGBT na Atenção Básica. Tempus – Actas De Saúde Coletiva, 14(2). Recuperado de https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/2721

Resumo

O presente artigo teve como objetivo analisar a percepção de profissionais da atenção básica, sobre o reconhecimento de demandas e o acolhimento dado à população LGBT, buscando investigar a influência da Sciencia Sexualis, tal como descrita por Foucault, na construção e manutenção de estigmas dirigidos a esta população. A pesquisa envolveu 32 Unidades de Saúde da Família nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do País, onde foram entrevistados 21 médicos (as), 22 enfermeiros(as) e 11 ACS. A análise de discursos foi feita pelo método de Pechêux. Concluiu-se que o estigma, presente no senso comum da sociedade, é potencializado e racionalizado pela Scientia Sexualis contemporânea, a partir de suas classificações psiquiátricas e de suas análises estatísticas dirigidas à compreensão de grupos de riscos, o que, por sua vez produz uma generalização estereotipada que limita as demandas de saúde da população LGBT às IST/AIDS, e atribui a seus membros, outros comportamentos moralmente condenáveis, tais como abuso de drogas e promiscuidade sexual. Além disso, foi patente o desconhecimento da noção de equidade, o que provoca um discurso vazio e inoperante de afirmação da igualdade e universalidade,ao mesmo tempo em que nega a necessidade de ações específicas para a população LGBT.
PDF

Referências

Whitehead M, Dahlgreen G. Concepts and principles for tackling social inequities in health. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2006.

Silva LMV, Almeida Filho N. Equidade em Saúde: uma análise crítica de conceitos. Cad Saude Publica. Rio de Janeiro. 2009; 25(2): 217-226.

Costa AM, E Lionço T. Democracia e Gestão Participativa: uma estratégia para a equidade em saúde? Saúde Soc.. São Paulo. 2006 Ago; 15(2): 47-55.

Souto K, Sena AG, Pereira V et al. Estado e políticas de equidade em saúde: democracia participativa? Rev Saúde debate. Rio de Janeiro. 2016 Dez: 40(spe): 49-62.

Braverman P. What is Health Equity: And how does a life-course approach take us further toward it? Matern Child Health J. 2014 Fev; 18(2): 366-372.

Cardoso MR, Ferro LF. Saúde e população LGBT: demandas e especificidades em questão. Psicol., Ciênc. Prof.. Brasilia. 2012; 32(3): 552–63.

Granado-Cosme JA, Delgado-Sánchez G. Identity and mental health risks for young gays in Mexico: recreating the homosexual experience. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2008 Maio; 24(5):1042–50.

Brito e Cunha RB, Gomes R. Os jovens homossexuais masculinos e sua saúde: Uma revisão sistemática. Interface Commun Heal Educ. Botucatu (SP). 2015 Mar ;19(52):57–70.

Carrara S. Discriminação, políticas e direitos sexuais no Brasil. Cad Saude Publica . Rio de Janeiro. 2012 Jan; 28(1): 184–9.

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2836, de 1º de dezembro de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT). Diário Oficial da União. 2 Dez 2011.

Carvalho DM, Santos MAS, Stopa SR et al. A Cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Ciênc. Saúde Coletiva [Internet]. 2016 Fev [acesso 2018 out 09]; 21(2 ): 327-338. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?

Albuquerque GA, Garcia CL Alves, MJH Queiroz CMH, Adami F. Homossexualidade e o direito à saúde: um desafio para as políticas públicas de saúde no Brasil. Rev Saúde debate. Rio de Janeiro. 2013 Set; 37 (98): 516-524.

Facchini R, Barbosa RM. Saúde das mulheres lésbicas: promoção da equidade e da integralidade. Dossiê [internet] Belo Horizonte. Org. Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. 2006 Mar [acesso 2018 set 5]. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/dossie_da_saude_da_mulher_lesbica.pdf

Davy Z, Siriwardena AN. To be or not to be LGBT in primary health care: health care for lesbian, gay, bisexual, and transgender people. Br J Gen Pract. 2012 Set; 62(602): 491–492. PubMed; PMID: 22947575.

Petroll AE, Mosack KE. Physician awareness of sexual orientation and preventive health recommendations to men who have sex with men. Sex Transm Dis. 2011Jan; 38(1): 63–7. PubMed; PMID: 20706178.

Mosack K, Brouwer A, Petroll A. Sexual Identity, Identity Disclosure, and Health Care Experiences: Is There Evidence for Differential Homophobia in Primary Care Practice? Womens Health Issues 2013 Nov Dez; 23(6): e341–e346. PubMed. PMID: 24183408.

Assis MMA, Jesus WLA de. Acesso aos serviços de saúde: abordagens, conceitos, políticas e modelo de análise. Ciênc. Saúde Coletiva [internet]. 2012 nov[ acesso 2018 out 10] ; 17( 11 ): 2865-2875. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232012001100002.

Caponi S. Loucos e Degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada. 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz; 2012.

Ayres, JR. Práticas educativas e prevenção de HIV/Aids: lições aprendidas e desafios atuais Interface Comunic., Saúde, Educ. Botucatu (SP). 2002 Ago: 6(11); 11-24

Foucault M. História da sexualidade I: A vontade de saber. 13ª ed. Rio de Janeiro; Graal: 1998.

Goffman E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. LTC: 1982.

Organização Mundial de Saúde (OMS). Transsexuality is not a mental disorder. 2018 [acesso em 2018 Jun 28]. Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/2018/06/18/apos-28-anos-transexualidade-deixa-de-ser-classificada-como-doenca-pela-oms_a_23462157/

Pechêux, M. Análise de Discurso. 4a ED. Campinas: Editora Pontes; 2015. 315p.

Albuquerque GA, Garcia CL, Alves MJH, Queiroz CMHT, Adami F. Homossexualidade e o direito à saúde: um desafio para as políticas públicas de saúde no Brasil. Saúde debate. 2013 Set; 37(98 ): 516-24.

Davy Z, Siriwardena AN. To be or not to be LGBT in primary health care: health care for lesbian, gay, bisexual, and transgender people. Br J Gen Pract. 2012 Set. 62(602); PubMed: PMC3426593.

Terto Junior V. Homossexualidade e saúde: desafios para a terceira década de epidemia de HIV/AIDS. Horiz Antropol. Porto Alegre. 2002 Jun; 8(17): 147-158.

Toledo LG, Teixeira Filho FS. As lesbianidades entre o estigma da promiscuidade e da ilegitimidade sexual. Temáticas. Campinas. 2012 Ago Dez; 20(40): 67-103.

Farias M. Mitos atribuídos às pessoas homossexuais e o preconceito em relação à conjugalidade homossexual e a homoparentalidade. Revista de Psicologia da UNESP. São Paulo. 2010 Set; 9(1): 104-115.

Granado-Cosme JA, Delgado-Sánchez G. Identity and mental health risks for young gays in Mexico:recreating the homosexual experience. Cad Saude Publica. Rio de Janeiro. 2008 Maio ;24(5):1042–50.

Solla J. Acolhimento no sistema municipal de saúde. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife. 2005 Out/Dez; 5 (4): 493-503.

Da Silva LMV, Filho NA. Eqüidade em saúde: uma análise crítica de conceitos. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2009; 25 (Suppl .2) p. s217-s226.